Depois daquela viagem

Depois Daquela Viagem 27 — Tá. Eu preciso avisar as pessoas que eu beijei na boca durante esse tempo? — Não. Não precisa. Ainda bem. Já estava imaginando eu ter que ligar pros caras com quem eu havia ficado e dizer: “Oi, tudo bem, lem- bra de mim? Então, tô te ligando pra avisar que eu estou com AIDS”. Que notícia! Ainda bem que eu nunca mais tinha transado com ninguém. Graças a Deus! — E quando é que eu preciso voltar aqui? — A cada três meses para checar a imunidade. — Ãhã. — Agora vê se não fica encanando muito, porque tem gente que passou até dez anos sem desenvolver a doença. Nossa, que bom, não? No mínimo ele ficou ali parado, esperando que eu desse um sorriso e saísse feliz e contente. Dez anos. Dez anos… A minha cabeça já tinha começado a fazer as contas. Peraí, já nem são mais dez. Se eu estou com dezoito anos, peguei isso provavelmente com dezesseis, então me restam só oito. Oito anos. Oito anos para eu me encher de pereba, meu cabelo cair, eu ficar pesando meio grama e tchau! Essa era a primeira sentença de morte que eu via com validade para oito anos. E isso se eu tivesse sorte, é claro, muita sorte. — É só isso? — É, se cuida, tchau! Bem, agora só me restava pegar aquele avião e sumir. Antes, porém, eu tinha que fazer uma coisa: terminar tudo com o Leco. A gente já tinha conversado sobre a viagem e combinado que, durante o tempo em que eu estivesse fora, cada um poderia fazer o que quisesse, mas continuaríamos a namorar quando eu voltasse. Ele veio se despedir um dia antes da viagem e eu já fui logo mudando tudo:

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