Ana Z., aonde vai você?

18 tão próximas que não há mais estacas. Ana se abaixa, caminha um pouco, colando bem os braços no corpo. Se abaixa mais ainda, avança quase de cócoras naquilo que agora virou um túnel aperta- do, ou uma espécie de funil. Com nojo, sente teias de aranha co- lando nos cabelos, encolhe o pescoço buscando a proteção da gola. “Pareço um sapo”, pensa. E nem bem encerrou o pensamento, per- cebe que o aperto acabou, nenhuma ponta fria roça mais nas suas costas. Ana saiu em algum lugar. O negrume é o mesmo, mas um espaço maior abriu-se ao seu redor. Um cheiro diferente, mais seco e sem mofo. É a primeira coisa que Ana percebe. E calor. Aqui é bem mais quente, abafado. Com lento cuidado, enquanto se põe de pé, Ana levanta a cabeça, para iluminar em volta. O raio de luz do seu capacete salta para dentro da escuridão, se estica todo, vai se movendo desimpedido como uma vara. É tão bonito, que Ana dá uma balançada na cabeça só para vê-lo dese- nhar o escuro. E, num susto, é o coração de Ana que balança e sal- ta dentro do peito, esbarrando nas costelas. Por um instante, o raio bateu num vulto branco. Ana se encolhe toda, esconde a luz contra o chão. Mas, por mais quieta que que, o ar parece sair do seu nariz com barulho de ven- tania, e ela tampa o nariz e abre a boca, e agora é o sangue baten- do na sua cabeça que faz um barulhão, um barulhão tão grande que ela tem certeza de que o vulto branco está ouvindo, e avança para ela, e vai achá-la, vai agarrá-la, vai, vai, vai. Ana abraça seus joelhos com tanta força que os braços doem. Está quase sentindo a mão do vulto, a garra do vulto, cravando as unhas no seu pescoço. Quase. Falta pouco. Pouquíssimo. Um momento só. Mas falta. Aquele momento passa. Fica faltando só mais outro. Mínimo momento. Que também passa. Nenhum pas- so se aproxima. Nenhuma garra se abate sobre a sua nuca. Ana espera. O sangue já não bate com tanta força. Então, bem devagarinho, Ana levanta a cabeça. E, não vendo ninguém ao seu lado, deixa a luz procurar a presença assustadora. Primeiro, nada, só espaço preto. Depois, uma mancha mais cla- ra. Uma parede. E pronto! A luz bate nele novamente, no homem

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