Ana Z., aonde vai você?

7 1 Ana Z. Esta história começa com Ana debruçada à beira de um poço. Acho que chegou ali por acaso, mas não posso jurar. Não sei nem mesmo se o poço está num campo ou num jardim. A verdade é que não sei nada da vida de Ana antes deste momento. Sei que a letra Z é do seu sobrenome, mas ignoro as outras letras. Desconheço tudo o mais a respeito dela. Eu a encontro como vocês, pela primeira vez, menina à beira de um poço, em que agora se debruça. Ana quer ver a água no fundo. É provável que quisesse até ver o seu re exo. Mas não vê. Por mais que olhe, vê só uma escuridão re- donda e comprida, como um túnel em pé. E nenhum brilho lá em- baixo. Então cospe, para ouvir o barulho do cuspe batendo na água. É talvez para ouvir melhor que inclina a cabeça um pouco de lado e estica o pescoço. Mas nesse gesto… plaft! O colar de con- tas brancas, contas que eu vi bem antes dela se inclinar, e que são de mar m, cada uma entalhada no feitio de uma rosa, prende-se no botão da blusa, e parte-se. Num instante, uma após a outra, como meninas em la ou gotas de choro, as contas caem na escuridão do poço. E Ana, sem tempo para reagir, vê cada conta tornar-se uma mancha branca, depois manchinha branca, ponto branco, pontinho, branco nenhum.

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