Ana Z., aonde vai você?

8 Lá embaixo, nada se mexe. Nem Anaouvequalquerbarulhode água. “Meu colar!”, pensa com força, quase pudesse pescá- -lo com seu desejo. Meio que chora, meio que olha em vol- ta procurando solução. Pois so- lução tem que haver para colar tão querido. Já vai esfregar os olhos para com a lágrima apagar a ardência, quan- do estes veem os degraus, e não querem mais saber de esfregação. Não são degraus de verdade, feito os da escada da casa de Ana. São degraus de fer- ro, escuros de ferrugem, cravados como alças nas paredes do poço. Não têm um ar muito animador, nem muito rme. Mas é por eles que Ana pode ir buscar as contas do seu colar. Vamos descer com Ana. Devagar. Passar uma perna por cima do poço, testando o degrau com o pé, o corpo ainda metade para fora metade para dentro. Agora a outra perna. Cuidado. A beira do poço é escorregadia, as paredes são cheias de limo. Ana não sabe se suas mãos estão suando, ou se é a umidade dos degraus, mas segura rme. Os pés tateiam. O coração está muito mais apres- sado que ela. Um degrau. Outro. Mais um. — A nal — diz Ana baixinho, tentando minimizar a descida —, um poço é só uma chaminé ao contrário. Depois dos cinco primeiros degraus, sente-se mais con ante. Não em relação ao poço, mas em relação aos degraus. Já sabe que eles aguentam, pode descer. Só não sabe o que a espera lá embaixo. Descendo, enquanto cuida de manter o medo quietinho no fundo do estômago, Ana perde a conta dos degraus. Sabe que são muitos. Olha para cima, procurando ter uma ideia da distância. Vê, dos lados, o escuro do poço, a boca lá no alto, redonda, lumi- nosa. E, à medida que desce mais, e mais, o escuro parece crescer, a boca vai diminuindo. Até car redondinha e pequena, espécie

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