Contos de enganar a morte

— Quem é você? — perguntou o homem. — Sou a Morte. O homem não pensou duas vezes: — Aceito. Você sempre foi justa e honesta, pois leva para o cemitério todas as pessoas, sejam elas ricas ou pobres. Sim — continuou ele com voz firme —, quero que seja minha comadre, madrinha de meu sétimo filho! E assim foi. No dia combinado a Morte apareceu com sua capa escura e sua bengala de osso. O batismo foi realizado. Após a cerimônia, a Morte chamou o homem de lado. — Fiquei muito feliz com seu convite — disse ela. — Já estou acostumada a ser maltratada. Em todos os lugares por onde ando as pessoas fogem de mim, falam mal de mim, me xingam e amaldiçoam. Essa gente não entende que não faço mais do que cumprir minha obrigação. Já imaginou se ninguém mais morresse no mundo? Não ia sobrar lugar para as crianças que iam nascer! Na verdade — confessou a Morte —, você é a primeira pessoa que me trata com gentileza e compreensão. E disse mais: — Quero retribuir tanta consideração. Pretendo ser uma ótima madrinha para seu filho. A Morte declarou que para isso transformaria o pobre homem numa pessoa rica, famosa e poderosa. — Só assim — completou ela —, você poderá criar, pro- teger e cuidar de meu afilhado. O vulto explicou então que, a partir daquele dia, o homem seria um médico. 10 Contos de enganar a morte

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