Um Lugar cheio de ninguém

8 A porta do quarto, fechada, não afastava o risco de os pais acordarem. Ai se descobrem o rádio ligado àquela hora da noite... E, o mais grave, em companhia dos dois pequenos, ouvindo um programa proibido para crianças. O castigo viria pesado! Sintonizada a estação, barco ancorado, o locutor pros- segue, puxandoo fio sinistroda história. No rádio, o terror é aindapior.Oouvinte, semadistância salvadoradas ima- gens de cinema ou de televisão, vê as cenas apavorantes se projetando dentro dele, com a colaboração da própria imaginação –– total sentimento de desamparo. Mas pra onde correr, se todas aquelas assombrações estão tranca- das no escuro da sua própria cabeça?Os sons nos progra- masnoturnosdorádiosãopoderososaliadosdosuspense: passos numa rua deserta, uivos, gritos, rangidos de porta, badaladas, ventos uivantes, vidros se estilhaçando... todo essse arsenal para imobilizar o indefeso ouvinte. Mas nin- guém o obriga a dar ouvidos ao rádio. Ele próprio cria e sustenta o gosto pelo vento gelado do terror na pele. O episódio da noite termina, com figuras macabras e soturnas desaparecendo na escuridão. Os garotos, banhados de suor. São apenas quinze minutos de pro- grama, mas parece uma eternidade. No quarto dos três irmãos há uma cama onde dor- me Alex, o mais velho, e um beliche para os pequenos.

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